Cartas do bem

Há cerca de dois anos passei a me corresponder com uma criança, por meio de um projeto social muito bacana que se chama "Correspondentes do Bem".
O nominho do meu correspondente era Gustavo e, apesar de me enviar cartas muito esporádicas, foi uma experiência bem gratificante para mim.
Ele ainda se expressa muito mal pela escrita, o que é desanimador dado que já havia passado para a quinta série - que ele acabou repetindo.
Não digo que suas cartas fossem sempre motivo de festa, pois algumas vezes ele não estava legal, escrevia palavras obscuras, e isso me entristecia, claro.
Mas como diria o rei, "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi". Eu recebia as cartas do Gustavo com a alegria com que sempre recebemos cartas, é uma delícia quando encontramos um envelope de verdade para nós ali no meio de contas, propagandas e outras inutilidades. E embora essa alegria fosse muitas vezes mesclada a uma emoção negativa, de angústia ou tristeza por ele, posso dizer que foi um exercício de sensibilidade, de amizade e afeto desprendidos, que me fez, sim, muito bem.
Por fim, ele desistiu de participar do projeto, me deixando com a impressão de estava passando por um momento difícil, pela última carta. Ainda enviei um presente de "volta às aulas", pois ele estava totalmente desmotivado por ter repetido. Enviei também uma carta de despedida, mas não recebi resposta.
Hoje, porém, meu celular tocou e eu atendi com a usual má vontade. Gente, a cada dia tenho menos saco para telefones! Mas atendi, e era do projeto, para me dar uma notícia que me deixou muito, mas muito feliz: o Gustavo foi adotado! E a mãe adotiva procurou o projeto por achar que pode ser bom para ele prosseguir com as cartas. Sendo assim, voltaremos a nos corresponder. E eu voltarei a me emocionar!