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27.3.08

O preço

Ela tinha só 14 anos. A infância pobre, mas não miserável, deixada pra trás, mas não sem olhar pra trás.
Na cabeça, o sonho pueril de ser outra pessoa, de ter outra vida. Na verdade, apenas resignação à vida simples, mas não pobre, pela frente.
Toda a vida dedicada a uma família que não era a sua, mas que foi-se tornando sua nova família, sem no entanto tomar o lugar daquela que ficara lá, naquela cidadezinha poeirenta onde a terra vermelha queima sob o sol incandescente.
Aqui, garoa e céu nublado, asfalto e concreto. Algum luxo, mas trabalho duro servindo àquela que agora era sua família. Com direito a tudo, intrigas, desafetos e amor incondicional. E, acima de tudo, dedicação incondicional.
É admirável sua capacidade de adaptação, de entrega e doação ao próximo. Qual o preço de uma vida? Cada uma tem o seu; o dela, um teto, um salário digno, uma oportunidade, mas não só isso, também amizade e a boa e velha sensação, nem que seja ilusória, de pertencer. Pertencer a uma família, ter um lugar no mundo.
Nem que isso custe a sua vida, nem que pra isso você precise renunciar a si mesmo para tornar-se parte integrante de outra coisa que não é sua.
Admirável, mas triste, ou antes espantoso de tão triste.

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