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21.1.10

Shine

Ontem aluguei esse filme já antigo, mas que me não tem como não te fazer pensar. Bom, primeiro eu fiquei bem irritada assistindo e quase desisti.
Quem já viu, deve se lembrar do motivo: o pai dominador e autoritário (e pirado!) do protagonista, o pianista australiano David Helfgott, que desde criança demonstra um talento prodigioso ao piano.
O filme ilustra bem como eram as famílias antigamente, coisa que hoje em dia já não se vê muito (algumas coisas evoluem!); aquele pai centralizador, a quem todos obedecem cegamente, uma mãe omissa e filhos submissos por acreditarem que aquilo é o certo, que o pai é um herói acima de qualquer suspeita.
Sendo que o pai nesse caso, como em tantos, não passava de um coitado, frustrado em suas pretensões musicais pelo seu próprio pai, que quebrou o violino que ele se esforçou para comprar quando jovem. Constelação familiar total; as gerações vão-se imitando, repetindo os erros década após década, é incrível observar como isso realmente acontece.
E como quebrar esses padrões? Haja terapia... haja coragem. Não sei qual a resposta, qual a fórmula da felicidade.
No caso de David, a influência paterna transformou sua vida do começo ao fim, ele, um artista, uma alma sensível, simplesmente não aguentava a pressão, e foi-se dobrando como um bambu ao vento, até quebrar. Na vida adulta, conseguiu se recuperar um pouco, graças à ajuda de amigos, de pessoas de fora da família, que o acolheram ao longo dos anos, em especial a mulher com quem acabou se casando. Mas as marcas do abuso psicológico foram violentas, tal como o próprio abuso.
E é sempre assim; as marcas ficam, muitas vezes cicatrizes profundas, as semelhanças vêm à tona sem nem mesmo percebermos. É difícil superar, contornar essas marcas familiares. É uma luta constante, diária até.
É uma obrigação de ser feliz com nossas escolhas, o que também não deixa de ser pressão; os filhos muitas vezes acabam vivendo à sombra dos pais, da família, seja aceitando as semelhanças com eles, seja negando radicalmente. Porque a rebeldia também pode ser uma forma de submissão. Mas o fato de pelo menos tentarmos fazer escolhas próprias acho que já pode ser um começo. Digamos que é melhor do que nada. Melhor do que seguir tocando a mesma música vida afora para agradar ao pai ou a quem quer que seja.

1 Comentários:

Anonymous Roseane disse...

Muito orgulho de ser sua amiga depois de ler esse texto!

30/1/10  

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