ao

31.7.07

Não raro eu me pergunto como meus amigos me agüentam, pois quando tenho um problema eu só falo nisso. Eu fico como que obcecada pelo tema e preciso conversar com várias pessoas para tentar me achar, entender, saber o que fazer, por isso devo agradecer e dar os parabéns a quem me escuta e me aconselha, às vezes por meses a fio. Obrigada!

30.7.07

Liberdade

Eu queria ver
Minha avó nascendo
Conversar com Pedro
Ter vivido cem anos
Voar com os urubus
Pular com os cangurus
Atravessar o gelo polar
Eu não queria ter nascido pelado
E estar ao seu lado
Ouvindo besteiras
Eu queria contar as estrelas
E não parar com as pedras
No mesmo lugar
Eu queria subir pro céu
Sentar no meu chapéu
Ouvir Cristo falar
Eu queria ser filho de uma porca
E não ver tanta gente
Me olhando de cara torta
Eu não queria ir
Mas fui pra Capital
Tinha espinhos e chifres
Que nem eu vi no Congresso Nacional
Eu queria andar feito as formigas
Todas enfileiradas
Com as tochas nas costas
Eu queria cair os dentes
Morder o presidente
Pra ele ver que eu também sou gente
Eu queria ler jornal
Na porta do hospital
Eu queria andar de Besta
Feito besta
Nas ruas pras pessoas me olharem
Eu queria ser
Mas não sou
Então fico sentado
Vendo o vento passar

Lorival Luís de Azevedo

26.7.07

Identidade

Eu amo meu trabalho.
E nunca achei que fosse dizer isso. Eu que sempre reclamei desse trabalho por vezes ingrato, mal remunerado, não reconhecido, diria até desconhecido - o que, aliás, também diz alguma coisa sobre mim: que gosto de ficar nos bastidores, que prezo minha privacidade.
Ultimamente, sozinha aqui, tenho me sentido fora do mundo, deslocada, distante, sem os referenciais dos amigos, da família, do meu carro, do meu canto, dos lugares e das coisas que eu amo. E é a tradução que está resgatando minha identidade. Traduzir é o meu jeito de me sentir "eu".
Talvez por me encontrar em um lugar e em uma situação em que nada se identifique com quem eu sou, em que tudo é novo e deveras estranho para mim, em que tudo e todos parecem tão diferentes daquilo que eu sou.
Além do mais, a tradução virou uma espécie de meditação para mim. Eu me concentro no texto original, na minha escrita, nas pesquisas, e com isso deixo de pensar em tudo o mais. Não digo que seja fácil me concentrar, não é, mas quando consigo, é muito bom esquecer de tudo, não pensar em nada além.
Eu ia chamar esse post de Found in translation, brincando com o nome do filme Lost in translation, mas achei que seria lugar-comum demais e, na verdade, eu não só me perco ou me acho, eu me perco E me acho na tradução.

23.7.07

In the city of love, avoid eye contact

Alguém já assistiu a Paris, je t'aime*? Se não assistiu, assista. Altamente recomendado!
O filme é composto por pequenos contos cinematográficos, todos com uma mesma temática: o amor. Claro que com o amor não podiam faltar perda, solidão, tristeza, paixão.
Como se não bastasse toda a beleza de Paris ao fundo, cada uma dessas pequenas crônicas de um cotidiano nada comum é de uma beleza transcedental, que desperta as mais variadas emoções no espectador. Um filme cativante e extremamente comovente.
Destaques para a história do faxineiro atendido pela moça do resgate, da mulher com leucemia, do cowboy e, em especial, da turista americana em Paris: momento em que eu comecei a rir convulsivamente enquanto lágrimas escorriam sem parar pelo meu rosto: o diretor conseguiu me emocionar exatamente com as mesmas emoções da personagem, alegria e tristeza misturadas, uma coisa impressionante e triste, triste e belíssima. Em resumo, um dos meus filmes prediletos, um equivalente cinematográfico do Livro dos abraços.

*Em cartaz

20.7.07

O que eu queria

Queria um amor que me levasse pela mão para conhecer os mais exibidos e escondidos recantos do mundo.
E eu não teria dúvidas ao segurar aquela mão, iria junto.
Sua mão firme estaria ali para me proteger sempre, sem sombra de dúvida minha.
E pronta a me soltar sempre em que eu sentisse falta da minha individualidade.
Mas eu nunca ia querer soltar.

Filosofia nada clássica

Manipulação não é o voto dos analfabetos, é o analfabetismo.
A desigualdade entre iguais é a pior das injustiças.

19.7.07

Felicidade, sim

Estava bom demais para ser verdade.
Meu primeiro querido mês de julho aqui se transformou de repente.
Difícil definir o futuro, mas o presente posso garantir que não está dos melhores.
Sinto-me moralmente assediada, eu que nem emprego tenho mais.
O fato é que alguém desocupado é capaz de atormentar a mente de um desavisado - no caso, eu.
Momento de indecisão e tristeza, decepção.
Pelo menos sábado vou encontrar gente que adoro, vou me divertir e celebrar minha juventude enquanto é tempo, pois ela está escoando pelos ralos fétidos de Sanja.

11.7.07

La mousse

Adoro mousse e nunca soube que era fácil de preparar, mas é. Peguei a receita em uma Revista da Folha, mas precisei mudar um pouco as proporções, pois hoje em dia as barras de chocolate estão vindo com menos de 200g.

Ingredientes
1 tablete de 180g de choco meio amargo
(a receita original dizia 200g)
4 ovos em temperatura ambiente
(usei caipira, mas a receita pedia extra-grandes)
1 caixinha de creme de leite
(costumam ter 200ml, mas usei apenas 150 e deu certo. Usei light e deu certo)
1 colher de chá de extrato de baunilha
2 colheres de sopa rasas de açúcar

Preparo
Quebre o chocolate em pedacinhos e derreta em banho-maria em fogo lento. Não deixe o choco ferver, se começar a borbulhar desligue o fogo! Ele termina de derreter com o calor do restante do choco. Se quiser usar o microondas, coloque os pedacinhos em potência máxima por uns 2 min. Cuidado ao apoiar a tigela ou prato quente na pia: outro dia esquentei uma sopa e o choque térmico fez a travessinha rachar inteira. :(
Ponha todos os ingredientes no liquidificador; o chocolate por último.
Bata bem, raspando as bordas com espátula.
Despeje em uma compoteira e enfeite com raspas de chocolate branco (ou nozes, morangos, cerejas). Deixe na geladeira até o momento de servir.

9.7.07

Almoço de sábado

Duas queridas vieram me ver nesse sábado, depois de uma semana tão dramática, nem preciso dizer que foi divertidíssimo e levantou um pouco meu "ego", não totalmente mas quase. Levei-as ao meu mexicano predileto à noite, depois de muito caminhar e me estourar tentando jogar tênis no paredão daqui (terrível!), rimos muito assistindo ao Borat de madrugada e domingo fomos ao meu café predileto tomar brunch!
No almoço de sábado fiz uma receita da prima gourmet, que é deliciosa e muito fácil.
Meninas, aprendam para fazer para mim também!

Mini penne* ao limone

Ingredientes
2 dentes de alho
1 colher de sopa de azeite
raspas da casca de 1 limão pequeno
o suco do limão
1/4 xícara de uvas passas brancas picadas miúdas
1/2 xícara de alcaparras picadinhas
1/4 xícara de parmesão ralado

Frite o alho no azeite até dourar. Desligue o fogo.
Acrescente as raspas de limão sobre o azeite, junte as alcaparras, uvas passas e o suco de limão. Jogue esse molho no macarrão quente, acrescente o parmesão ralado e misture bem.

Servi quentinho com o parmesão derretendo, acompanhado de saladinha verde e, de sobremesa, morangos e mousse de chocolate feita por mim na noite anterior, cuja receita vou postar aqui ao longo dessa semana. Bon appetite!

*Talvez fique bom também com penne ou fuzzili, mas nunca tentei!

6.7.07

vazio agudo ando meio cheio de tudo*

Acho que nunca vou entender por que pessoas que mal me conhecem, com quem não tenho qualquer intimidade ou afinidade, cismam de me ter por perto, cismam que eu tenho que estar ali. Não dá pra entender, pois não se trata de uma convivência espontânea, de uma amizade nascida das afinidades, da afeição ou da pura vontade de estar junto, que é o que une as pessoas.
Não, é apenas uma convivência forçada pela convenção e acho que meu lado punk se rebela pois na mesma hora eu me arrepio toda, entro em pane e digo: não. Eu não conheço você, não tem porque você gostar tanto de mim assim como alega e exigir ou querer tão desesperadamente minha presença, a não ser por um simples motivo: porque se diz que o certo é assim.
Eu não quero que você me odeie, claro, quero apenas conviver com você a uma certa distância saudável, pelo menos para mim. Como diz o sábio, cada um, cada um, e meu conceito de privacidade pode ser mais estrito que o seu. E por que eu haveria de querer proximidade absoluta se nem consigo ser eu mesma ao seu lado? O que me leva de volta ao início: você mal me conhece.
Isso não é gostar de mim e não necessariamente me fará gostar de você. Eu não só não consigo ser convencional como não consigo tolerar essas convenções malucas e distorcidas. Até quando isso tem que se perpetuar? Quem foi o chato que inventou o casamento?
Família ou é a nossa ou a gente escolhe ao longo da vida. Eu tenho a minha e também tenho alguns poucos e bons amigos que considero muito, talvez não cheguem a ser como uma segunda família minha, mas são meus amigos. E para mim é o bastante. A minha família já é dor de cabeça e chatice suficientes para uma vida. Não quero uma segunda. Quero um namorado, mas não por querer, e sim porque encontrei alguém que eu amo. Não quero um marido nem uma segunda família, nem um segundo pai e mãe, os meus já são ótimos com seus defeitos e virtudes e são o bastante. Amar alguém precisa trazer tantas obrigações junto? Amar precisa ser um fardo a mais? Eu achava que amar tinha que ser dividir os fardos e não somar outros.

*poema de Paulo Leminski

Falling to pieces

Nunca pensei que coisas que eu fizesse para agradar, sem pensar, por amor, fossem ser usadas contra mim nesse tribunal.
Nunca achei que se eu fizesse uma vez, num impulso, só para experimentar, "só estou dando uma olhadinha", fosse se tornar uma obrigação perpétua, como um contrato assinado em cartório.
Porque por mais que eu fuja do contrato, não assine nada nem com a presença de um advogado, o acordo tácito do qual eu nem queria fazer parte está ali para me asfixiar, me decepar e me esquartejar.

5.7.07

One more day in hell

Hoje fui examinar meus olhinhos (o exame é tão ridículo que dá vontade de chorar - de raiva!) e tinha um motorista com a carta cassada querendo enrolar o médico. Era um típico casalzinho maloqueiro com cara de motociclista, a baranga oxigenada tentando ajudá-lo a passar a conversa no doutor oftalmologista, este já escoladíssimo nos esquemas 171 desse povinho.
O esquema era o seguinte: ele mora em SP, mas quer transferir a carta para Sanja porque conhece o delegado daqui e não teria que fazer um tal cursinho para quem estourou os pontos da carteira. Como o delegado seu conhecido é daqui de Sanja, ele estava tentando conseguir transferir para cá mesmo sem ter como comprovar endereço na cidade, pois o tal delegadozinho miserável lhe forneceria o comprovante do curso sem a necessidade de ele freqüentar as aulas.
Nisso o médico entrou no assunto comigo, depois de me explicar que esse era o esquema, comentou também que se eu não pagar "a mais" minha renovação vai demorar pra mais de mês.
E não é que voltando - com o exame e com a taxa paga na tal de Nossa Caixa, Nosso Banco (ainda não descobri de quem, viu... mas descobri onde fica!) - para marcar a prova obrigatória para a renovação, descobri que demora mesmo? A prova foi marcada só para o dia 26, sendo que a carta vence dia 21, e a infeliz funcionária pública da deprimente repartição comentou que se eu quisesse fazer o "cursinho preparatório" ela teria como adiantar a data da prova. Ou seja, se você paga um cursinho inútil eles passam você na frente!
Além disso tudo, o médico ainda comentou comigo que o delegado atual está sendo afastado do cargo exatamente por que foi descoberto o tal esquema de atrasar a emissão para obrigar quem tem urgência a pagar uma propina. Menos mal que denunciaram o palhaço, que na minha opinião deveria ser preso. Como disse o doutor, eles criam uma dificuldade para vender facilidade e como tem gente que acaba pagando...
Esse é o brasileiro...
O mais triste é que se eu não precisasse transferir de cidade, poderia renovar a CNH no Poupatempo e resolveria tudo com muito mais rapidez e conforto, sem stress nem corrupção.
A segunda coisa mais triste é que, chegando de volta ao carro, fui abordada por um cara com pinta de bandido e quase morri do coração, mas felizmente não fui assaltada. Diante da minha reação de puro medo, ele perguntou se tinha cara de ladrão, eu, pra não ofender, disse que não mas que tenho medo de tudo, e ele em seguida me pede um real! Olha, se um dia alguém me vir dando um real pra marmanjo, pode chamar a polícia porque É assalto mesmo!

3.7.07

Meu diário

Não bastava eu ter que morar aqui, ainda tenho que transferir a habilitação para cá, senão não posso renová-la. É a burocracia a engolir horas, dias, semanas da vida do cidadão. Aqui não tem metrô, não tem guia de ruas, para chegar ao Detran foi uma dificuldade, próximo passo: encontrar o obscuro endereço do médico para um exame sem qualquer outra serventia além de caça-níquel - mais uma vez, o cidadão sendo engolido. Depois me toca encontrar uma agência da Nossa Caixa (alguém já viu? Eu nunca vi esse tal de Nosso Banco na vida. Nossa caixa nosso banco de quem, afinal?) e pagar mais - sim! - uma taxa e finalmente voltar ao Detran no centrão movimentado cheio de múmias joselóides (as pessoas aqui andam com ar de zumbis pelas ruas, bem devagar e sem enxergar a gente), o tradicionalmente feio e sujo centro da cidade, repleto do mais novo orgulho do joselóide: os estressantes parquímetros, sempre prestes a vencer em um minuto!
Depois a gente resolve dirigir com a habilitação vencida e dizem que não pode, que é feio, é pecado. Tou começando a achar que preciso rezar para o meu santo predileto: São Paulo!

2.7.07

Like Virgin

E é assim mesmo: agora todo dia eu escuto Iris do Googoo Dolls, REM, Police, The Cure (!), Beatles, Rolling Stones e Oasis - todo dia!
E as notícias em primeira mão, então: renúncia do 1º Ministro, carro-bomba e volta das Spicy Girls.
Agora, uma questão: esse povo não se cansa de ouvir música na própria língua?

1.7.07

Chegou

O dia tão pouco esperado chegou.
Às vezes eu queria ter o poder de adiar o tempo.